De 18 á 24 de agosto, a mestranda Celine Lopes da Silva Santos
esteve presente no International Congress on Invertebrate Morphology,
sediado em Moscou (Rússia) para apresentação dos trabalhos de pesquisa
“Phenotipic plasticity in adult and larve tricking traditional taxonomy: A case
study in Ceriantharia (Cnidaria, Anthozoa)” e “The genus Ceriantheomorphe (Cnidaria:
Ceriantharia) in the western Atlantic: one or two species?”. Os trabalhos foram
realizados sob a orientação do Dr. Sérgio Nascimento Stampar (docente do
Departamento de Ciências Biológicas) e desenvolvido no Laboratório de Evolução
e Biodiversidade Aquática (LEDA), situado na FCL-Assis. Em entrevista ao Blog
do Departamento de Ciências Biológicas, Celine conta um pouco mais sobre a sua
estadia na Rússia e sobre sua pesquisa:
BLOG: Sobre o que se trata os trabalhos que você foi
apresentar no Congresso?
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CELINE: "O trabalho que apresentei oralmente, “Phenotipic
plasticity in adult and larve tricking traditional taxonomy: A case study in
Ceriantharia (Cnidaria, Anthozoa)” se trata de uma pesquisa que o laboratório
já vinha fazendo. Em 2015, o professor Sérgio e seus colaboradores publicaram
um trabalho descrevendo o estágio larval de uma espécie denominada Isarachnanthus
nocturnus. Recentemente, o grupo de pesquisa se deparou com outro cenário e
cultivou as larvas encontradas. O trabalho que fui apresentar em Moscou é
justamente fruto desse cultivo larval. Nosso intuito foi descobrir se essas
larvas e pólipos achados em 2016 eram os mesmos descritos no artigo de 2015 (Isarachnanthus
nocturnus). Nessa pesquisa de 2016, nós temos um cenário muito
interessante, em que as análises morfológicas indicaram que o pólipo (o
espécime) pertence a um gênero diferente, Arachnanthus e os
testes moleculares mostraram que na realidade, estamos lidando com a mesma
espécie (Isarachnanthus nocturnus) e aí descobrimos que dependendo das
condições ambientais (inverno e verão) nas quais as larvas se desenvolvem,
teremos pólipos com características morfológicas distintas. Já o trabalho que
apresentei na forma de pôster, “The genus Ceriantheomorphe (Cnidaria:
Ceriantharia) in the western Atlantic: one or two species?” é decorrente do meu
projeto de mestrado. Neste, nós estamos analisando a espécie Ceriantheomorphe
brasiliensis que possui uma incógnita que ainda não foi estudada por
ninguém. Essa espécie ficou quase 60 anos sem ser estudada e o prof. Sérgio foi
quem retomou a discussão sobre ela em sua tese de doutorado. O caso de C.
brasiliensis que estamos discutindo, é o seguinte: nós temos espécimes
descritos para uma parte do Atlântico Sul (Uruguai, Santa Catarina, Paraná, São
Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo) e para o Atlântico Norte (Golfo do
México e Estados Unidos), como você pode observar, temos um “abismo”, uma
barreira que desconecta esses espécimes. Ceriantheomorphe brasiliensis possui
o que chamamos de distribuição disjunta. Como então, sem manutenção de fluxo
gênico e em dois ambientes muito diferentes, esses espécimes conseguiram manter
similaridades para ainda serem mantidos na mesma espécie? É isso que discutimos
nesse trabalho. Os espécimes de C. brasiliensis do Atlântico
Norte e do Atlântico Sul pertencem, realmente, à mesma espécie ou são
populações diferentes? De acordo com as análises morfológicas sim, pertencem a
populações diferentes, mas, seria bom se comparássemos com os dados
moleculares. Até o momento, não conseguimos extrair o material genético dos
espécimes disponíveis da América do Norte. Mas, iremos fechar esse trabalho,
com certeza. Aguardem os próximos capítulos! RS"
BLOG: Qual a importância para a sua formação acadêmica,
participar de um congresso internacional?
CELINE: "Foi um dos primeiros grandes passos para a minha
formação em relação aos planos que eu tenho que são o doutorado e o
pós-doutorado. Comecei a fazer o meu currículo, concretamente. A participação
no Congresso sediado em outro país foi uma grande experiência para mim e
contribuiu bastante para a minha formação como pesquisadora. Porque o bom de
participar de congressos como esses é que começamos a ter uma dimensão de como
a Ciência e a pesquisa funcionam em outros países e quando a gente fala de um
congresso internacional, estamos nos referindo não só como a pesquisa anda em
Moscou, por exemplo, mas como a pesquisa anda em diversos outros locais que ali
estavam representados. Também podemos pegar exemplos para não pormos em prática
e alguns exemplos para aplicarmos e podemos ver do que o Brasil está precisando
no momento. Estamos precisando de muita coisa, mas também temos conseguido nos
posicionar no âmbito científico. Mas, aqui, na UNESP, com o meu grupo de
trabalho também aprendo muito e construo a minha parte pesquisadora aqui, com a
ajuda do prof. Sérgio e de meus colegas, isso é importante frisar."
BLOG: Como foi a experiência de estar em um Congresso
Internacional em Moscou, apresentando sua pesquisa?

CELINE: "Inicialmente, a experiência foi bastante difícil,
porque eu fui sozinha e nunca tinha ido a um congresso fora do país, na
realidade nunca tinha viajado para fora do Brasil. Então foi uma nova
experiência. No caso desse congresso, à princípio, ocorreram vários
contratempos e quase não conseguimos ir, mas no final deu tudo certo e eu
apresentei dois trabalhos. O primeiro era em formato de painel e o segundo, que
foi uma parceria entre o prof. Sérgio e outros pesquisadores, eu apresentei
oralmente, representando o LEDA. A Rússia é um país de pessoas peculiares, a
maioria não fala Inglês e para se conseguir informações na rua era bastante
difícil, ainda mais porque os habitantes de lá tem uma política muito estranha
quanto aos norte-americanos, então quando você perguntava “Oi, você fala
inglês?” a pessoa rapidamente falava que não e dava as costas. O congresso em
si, também foi complicado porque eu tinha que fazer uma apresentação oral e o
que estava me preocupando na ocasião era isso, porque eu vinha com uma bagagem
de congresso daqui do Brasil e na área da Educação que é totalmente diferente.
Aí, eu resolvi ir assistir a algumas apresentações antes da minha.
Inicialmente, achei que poucas pessoas fossem ir e como havia apenas cinco
minutos para as perguntas, achei que ninguém ia perguntar, mas, quando cheguei
na sala imensa onde aconteciam as apresentações, estava cheio de gente, a ponto
de não haver lugar para sentar, e a plateia anotava tudo que o pesquisador
falava, mesmo que não fizesse parte da linha de pesquisa dos ouvintes, mas era
algo que os interessava como Ciência Geral. Assim que a apresentação acabou,
eles faziam muitas perguntas, os 5 minutos não eram suficientes para tanta
pergunta e isso sustentava as conversas pós-apresentações entre os
participantes do evento. Foi uma experiência difícil e ao mesmo tempo ótima
porque eu comecei a aprender a defender o meu trabalho e a perceber MESMO que
todo trabalho cientifico tem uma limitação, e não só o meu. Vi também que o
grupo de invertebrados marinhos que nós trabalhamos precisa muito de estudo e
precisa ser abordado. As pessoas precisam saber o que é uma anêmona de tubo e
que esses animais, como quaisquer outros são importantíssimos para o meio
ambiente, por isso, merecem a nossa atenção. Lá só tinha a nossa pesquisa relacionada
ao grupo Ceriantharia, do mundo todo. Outra coisa que percebi e
trouxe isso comigo, e está aqui guardado comigo para eu praticar, é que aqui no
Brasil, precisamos mudar nossos hábitos em relação aos congressos, em relação à
pesquisa. Não é ruim você perguntar quando se tem alguma dúvida, perguntar não
significa que o ouvinte está com intuito de lhe prejudicar ou de lhe deixar em
uma saia-justa, ele só está querendo sanar a dúvida, discutir saudavelmente e
ao mesmo tempo contribuir com o seu trabalho. Às vezes, o pesquisador está tão
focado em sua pesquisa que algumas questões passam despercebidas e esses
congressos são bons porque as questões que você não percebe, as pessoas que
estão de fora vão perceber e darão sugestões. Com os questionamentos você aprende
a ter mais confiança no que você está fazendo. Além disso, a partir dos
trabalhos que eu assistir, que não eram sobre Ceriantharia, eu
consegui fazer perguntas aplicadas à Ceriantharia, que eu não
estava conseguindo fazer. Espero que essas perguntas se transformem em
trabalhos futuros. Em relação à apresentação em forma de pôster, foi bem
diferente dos congressos que participei. Lá, o pôster ficou exposto desde o
primeiro dia de congresso, as pessoas iam passando, vendo, lendo, anotando
dúvidas. Então, nos dias que os pôsteres foram apresentados, muita gente se
interessou, iam até os autores, pediam para explicar, perguntavam, tudo muito
interativo e bastante interessante."
BLOG: A apresentação oral foi o que mais te preocupou, mas
algo te surpreendeu nesse aspecto?
CELINE: "Uma coisa legal é como eles reagem quando a resposta
para uma pergunta feita é “não sei”. Aqui no Brasil tem-se uma cultura muito
pesada em relação a isso, onde se você diz que não sabe, você é quase que
crucificado, como se fosse um absurdo você não saber algo. Mas, é normal você
não conseguir responder uma questão inteira, é normal você não entender tudo o
que acontece no grupo que você está trabalhando. A gente se esforça para
explicar as lacunas, mas, não é possível responder todas as dúvidas que
permeiam um grupo de uma vez só. Então, vai ter coisas que você não vai saber
naquele momento, mas em outro, quem sabe? Mas, acredito que essa
obrigação de dominar tudo que circunda o que você estuda, venha desde a questão
do ensino de pesquisa, da estruturação de ensino. Ainda temos muitas limitações
desde o ensino básico. É preciso desmistificar que é indispensável saber tudo
de uma vez só. Também precisamos nos reeducar na questão de que em um evento
científico, o individuo só tem que assistir àquilo que é discernente ao seu
grupo ou a parte do corpo do bicho que você estuda. Às vezes, o que está sendo
abordado em determinada pesquisa de outra área, pode se aplicar à sua e isso
traz muito aprendizado."
BLOG: Em relação à programação do Congresso, são
diferentes dos congressos Brasileiros?
CELINE: "A estrutura é bastante parecida. Neste, em
especifico, dois dos minicursos ocorreram uma semana antes do congresso
começar. Já na semana do congresso estava acontecendo as apresentações orais
que foram divididas em dois temas e os painéis. O que chamou muito a minha
atenção foi que na hora das apresentações mais nada acontecia. Então o foco
realmente era voltado aos trabalhos. Nos coffee-breaks, eu descobri que os
russos não conseguem ficar muito tempo em locais fechados por uma razão em
específico, então houve muitos coffees (risos). As palestras duravam de 45
minutos à 1h, e os temas variavam muito. A maioria das palestras eram
resultados de trabalhos que as pessoas já estavam fazendo e sempre estavam
muito lotadas. Em todas as palestras eu me sentei nas escadarias (risos).
Também houve excursões para os museus após as apresentações. No geral, a
organização deles é muito parecida com a nossa, mas eles organizaram o
congresso em uma semana de uma maneira que todos os trabalhos tivessem a
atenção que mereciam. A pontualidade foi algo que me chamou muita a atenção
também. Nada atrasava, era impressionante. Se a sua apresentação tivesse
marcada para as 10h, era essa hora que começaria, não tinha essa historia de
mudar a programação por causa de atraso. Tudo acontecia no horário certo. Na
organização havia alunos e professores, mas tinham muitos alunos envolvidos.
Ah, e no Congresso todo mundo falava em Inglês! Era um pouco menos difícil para
se comunicar! RS "
Revisado por Celine Lopes da Silva Santos
Mestranda do LEDA- Laboratório de Evolução e Biodiversidade
Aquática