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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Celine Lopes concede entrevista ao Blog sobre congresso em Moscou

De 18 á 24 de agosto, a mestranda Celine Lopes da Silva Santos esteve presente no International Congress on Invertebrate Morphology, sediado em Moscou (Rússia) para apresentação dos trabalhos de pesquisa “Phenotipic plasticity in adult and larve tricking traditional taxonomy: A case study in Ceriantharia (Cnidaria, Anthozoa)” e “The genus Ceriantheomorphe (Cnidaria: Ceriantharia) in the western Atlantic: one or two species?”. Os trabalhos foram realizados sob a orientação do Dr. Sérgio Nascimento Stampar (docente do Departamento de Ciências Biológicas) e desenvolvido no Laboratório de Evolução e Biodiversidade Aquática (LEDA), situado na FCL-Assis. Em entrevista ao Blog do Departamento de Ciências Biológicas, Celine conta um pouco mais sobre a sua estadia na Rússia e sobre sua pesquisa:

BLOG: Sobre o que se trata os trabalhos que você foi apresentar no Congresso?

CELINE: "O trabalho que apresentei oralmente, “Phenotipic plasticity in adult and larve tricking traditional taxonomy: A case study in Ceriantharia (Cnidaria, Anthozoa)” se trata de uma pesquisa que o laboratório já vinha fazendo. Em 2015, o professor Sérgio e seus colaboradores publicaram um trabalho descrevendo o estágio larval de uma espécie denominada Isarachnanthus nocturnus. Recentemente, o grupo de pesquisa se deparou com outro cenário e cultivou as larvas encontradas. O trabalho que fui apresentar em Moscou é justamente fruto desse cultivo larval. Nosso intuito foi descobrir se essas larvas e pólipos achados em 2016 eram os mesmos descritos no artigo de 2015 (Isarachnanthus nocturnus). Nessa pesquisa de 2016, nós temos um cenário muito interessante, em que as análises morfológicas indicaram que o pólipo (o espécime) pertence a um gênero diferente, Arachnanthus e os testes moleculares mostraram que na realidade, estamos lidando com a mesma espécie (Isarachnanthus nocturnus) e aí descobrimos que dependendo das condições ambientais (inverno e verão) nas quais as larvas se desenvolvem, teremos pólipos com características morfológicas distintas. Já o trabalho que apresentei na forma de pôster, “The genus Ceriantheomorphe (Cnidaria: Ceriantharia) in the western Atlantic: one or two species?” é decorrente do meu projeto de mestrado. Neste, nós estamos analisando a espécie Ceriantheomorphe brasiliensis que possui uma incógnita que ainda não foi estudada por ninguém. Essa espécie ficou quase 60 anos sem ser estudada e o prof. Sérgio foi quem retomou a discussão sobre ela em sua tese de doutorado. O caso de C. brasiliensis que estamos discutindo, é o seguinte: nós temos espécimes descritos para uma parte do Atlântico Sul (Uruguai, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo) e para o Atlântico Norte (Golfo do México e Estados Unidos), como você pode observar, temos um “abismo”, uma barreira que desconecta esses espécimes. Ceriantheomorphe brasiliensis possui o que chamamos de distribuição disjunta. Como então, sem manutenção de fluxo gênico e em dois ambientes muito diferentes, esses espécimes conseguiram manter similaridades para ainda serem mantidos na mesma espécie? É isso que discutimos nesse trabalho. Os espécimes de C. brasiliensis do Atlântico Norte e do Atlântico Sul pertencem, realmente, à mesma espécie ou são populações diferentes? De acordo com as análises morfológicas sim, pertencem a populações diferentes, mas, seria bom se comparássemos com os dados moleculares. Até o momento, não conseguimos extrair o material genético dos espécimes disponíveis da América do Norte. Mas, iremos fechar esse trabalho, com certeza. Aguardem os próximos capítulos! RS"

BLOG: Qual a importância para a sua formação acadêmica, participar de um congresso internacional?
CELINE: "Foi um dos primeiros grandes passos para a minha formação em relação aos planos que eu tenho que são o doutorado e o pós-doutorado. Comecei a fazer o meu currículo, concretamente. A participação no Congresso sediado em outro país foi uma grande experiência para mim e contribuiu bastante para a minha formação como pesquisadora. Porque o bom de participar de congressos como esses é que começamos a ter uma dimensão de como a Ciência e a pesquisa funcionam em outros países e quando a gente fala de um congresso internacional, estamos nos referindo não só como a pesquisa anda em Moscou, por exemplo, mas como a pesquisa anda em diversos outros locais que ali estavam representados. Também podemos pegar exemplos para não pormos em prática e alguns exemplos para aplicarmos e podemos ver do que o Brasil está precisando no momento. Estamos precisando de muita coisa, mas também temos conseguido nos posicionar no âmbito científico. Mas, aqui, na UNESP, com o meu grupo de trabalho também aprendo muito e construo a minha parte pesquisadora aqui, com a ajuda do prof. Sérgio e de meus colegas, isso é importante frisar."

BLOG: Como foi a experiência de estar em um Congresso Internacional em Moscou, apresentando sua pesquisa?
CELINE: "Inicialmente, a experiência foi bastante difícil, porque eu fui sozinha e nunca tinha ido a um congresso fora do país, na realidade nunca tinha viajado para fora do Brasil. Então foi uma nova experiência. No caso desse congresso, à princípio, ocorreram vários contratempos e quase não conseguimos ir, mas no final deu tudo certo e eu apresentei dois trabalhos. O primeiro era em formato de painel e o segundo, que foi uma parceria entre o prof. Sérgio e outros pesquisadores, eu apresentei oralmente, representando o LEDA. A Rússia é um país de pessoas peculiares, a maioria não fala Inglês e para se conseguir informações na rua era bastante difícil, ainda mais porque os habitantes de lá tem uma política muito estranha quanto aos norte-americanos, então quando você perguntava “Oi, você fala inglês?” a pessoa rapidamente falava que não e dava as costas. O congresso em si, também foi complicado porque eu tinha que fazer uma apresentação oral e o que estava me preocupando na ocasião era isso, porque eu vinha com uma bagagem de congresso daqui do Brasil e na área da Educação que é totalmente diferente. Aí, eu resolvi ir assistir a algumas apresentações antes da minha. Inicialmente, achei que poucas pessoas fossem ir e como havia apenas cinco minutos para as perguntas, achei que ninguém ia perguntar, mas, quando cheguei na sala imensa onde aconteciam as apresentações, estava cheio de gente, a ponto de não haver lugar para sentar, e a plateia anotava tudo que o pesquisador falava, mesmo que não fizesse parte da linha de pesquisa dos ouvintes, mas era algo que os interessava como Ciência Geral. Assim que a apresentação acabou, eles faziam muitas perguntas, os 5 minutos não eram suficientes para tanta pergunta e isso sustentava as conversas pós-apresentações entre os participantes do evento. Foi uma experiência difícil e ao mesmo tempo ótima porque eu comecei a aprender a defender o meu trabalho e a perceber MESMO que todo trabalho cientifico tem uma limitação, e não só o meu. Vi também que o grupo de invertebrados marinhos que nós trabalhamos precisa muito de estudo e precisa ser abordado. As pessoas precisam saber o que é uma anêmona de tubo e que esses animais, como quaisquer outros são importantíssimos para o meio ambiente, por isso, merecem a nossa atenção. Lá só tinha a nossa pesquisa relacionada ao grupo Ceriantharia, do mundo todo. Outra coisa que percebi e trouxe isso comigo, e está aqui guardado comigo para eu praticar, é que aqui no Brasil, precisamos mudar nossos hábitos em relação aos congressos, em relação à pesquisa. Não é ruim você perguntar quando se tem alguma dúvida, perguntar não significa que o ouvinte está com intuito de lhe prejudicar ou de lhe deixar em uma saia-justa, ele só está querendo sanar a dúvida, discutir saudavelmente e ao mesmo tempo contribuir com o seu trabalho. Às vezes, o pesquisador está tão focado em sua pesquisa que algumas questões passam despercebidas e esses congressos são bons porque as questões que você não percebe, as pessoas que estão de fora vão perceber e darão sugestões. Com os questionamentos você aprende a ter mais confiança no que você está fazendo. Além disso, a partir dos trabalhos que eu assistir, que não eram sobre Ceriantharia, eu consegui fazer perguntas aplicadas à Ceriantharia, que eu não estava conseguindo fazer. Espero que essas perguntas se transformem em trabalhos futuros. Em relação à apresentação em forma de pôster, foi bem diferente dos congressos que participei. Lá, o pôster ficou exposto desde o primeiro dia de congresso, as pessoas iam passando, vendo, lendo, anotando dúvidas. Então, nos dias que os pôsteres foram apresentados, muita gente se interessou, iam até os autores, pediam para explicar, perguntavam, tudo muito interativo e bastante interessante."

BLOG: A apresentação oral foi o que mais te preocupou, mas algo te surpreendeu nesse aspecto?
CELINE: "Uma coisa legal é como eles reagem quando a resposta para uma pergunta feita é “não sei”. Aqui no Brasil tem-se uma cultura muito pesada em relação a isso, onde se você diz que não sabe, você é quase que crucificado, como se fosse um absurdo você não saber algo. Mas, é normal você não conseguir responder uma questão inteira, é normal você não entender tudo o que acontece no grupo que você está trabalhando. A gente se esforça para explicar as lacunas, mas, não é possível responder todas as dúvidas que permeiam um grupo de uma vez só. Então, vai ter coisas que você não vai saber naquele momento, mas em outro, quem sabe?  Mas, acredito que essa obrigação de dominar tudo que circunda o que você estuda, venha desde a questão do ensino de pesquisa, da estruturação de ensino. Ainda temos muitas limitações desde o ensino básico. É preciso desmistificar que é indispensável saber tudo de uma vez só. Também precisamos nos reeducar na questão de que em um evento científico, o individuo só tem que assistir àquilo que é discernente ao seu grupo ou a parte do corpo do bicho que você estuda. Às vezes, o que está sendo abordado em determinada pesquisa de outra área, pode se aplicar à sua e isso traz muito aprendizado."

BLOG: Em relação à programação do Congresso, são diferentes dos congressos Brasileiros?
CELINE: "A estrutura é bastante parecida. Neste, em especifico, dois dos minicursos ocorreram uma semana antes do congresso começar. Já na semana do congresso estava acontecendo as apresentações orais que foram divididas em dois temas e os painéis. O que chamou muito a minha atenção foi que na hora das apresentações mais nada acontecia. Então o foco realmente era voltado aos trabalhos. Nos coffee-breaks, eu descobri que os russos não conseguem ficar muito tempo em locais fechados por uma razão em específico, então houve muitos coffees (risos). As palestras duravam de 45 minutos à 1h, e os temas variavam muito. A maioria das palestras eram resultados de trabalhos que as pessoas já estavam fazendo e sempre estavam muito lotadas. Em todas as palestras eu me sentei nas escadarias (risos). Também houve excursões para os museus após as apresentações. No geral, a organização deles é muito parecida com a nossa, mas eles organizaram o congresso em uma semana de uma maneira que todos os trabalhos tivessem a atenção que mereciam. A pontualidade foi algo que me chamou muita a atenção também. Nada atrasava, era impressionante. Se a sua apresentação tivesse marcada para as 10h, era essa hora que começaria, não tinha essa historia de mudar a programação por causa de atraso. Tudo acontecia no horário certo. Na organização havia alunos e professores, mas tinham muitos alunos envolvidos. Ah, e no Congresso todo mundo falava em Inglês! Era um pouco menos difícil para se comunicar! RS "

Revisado por Celine Lopes da Silva Santos
Mestranda do LEDA- Laboratório de Evolução e Biodiversidade Aquática