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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Vida de estagiário: Aluna de Engenharia Biotecnológica nos conta sobre seu estágio no Canadá


Dando continuidade aos relatos da nossa seção "Vida de Estagiário" (saiba mais), compartilharemos as experiências profissionais da Andressa Lie Mizobuchi, aluna do curso de Engenharia Biotecnológica que realizou, no último ano, estágio na área de biorremediação no laboratório do Canadá.

Blog: Onde você trabalhou e em que área?
Andressa: Trabalhei no laboratório de Bioprocesso e Biomonitoramento do departamento de Engenharia Química e Biológica da University of British Columbia, em Vancouver, na área de biorremediação, que é a utilização de microrganismos para remoção de contaminantes tóxicos do solo e da água (no meu caso, água).

B: Como você conseguiu seu estágio?
Departamento de Engenharia Química e Biologia da
University of British Columbia.
A: O estágio era requerido pelo programa de intercâmbio do Ciência sem Fronteiras no Canadá, e poderia ser realizado tanto em uma empresa conveniada quanto em um laboratório da própria universidade, desenvolvendo uma pesquisa sob orientação de um professor. No início pensei em tentar estágio em uma empresa, pois seria algo novo para mim, uma vez eu já havia feito iniciação científica por mais de um ano com a professora Catarina na Unesp, porém, pesquisando os professores do departamento em que estudava e suas linhas de pesquisa, descobri uma professora, a Susan Baldwin, que trabalha com biorremediação, que é uma área que eu sempre tive vontade de explorar. Então mandei um e-mail para ela e marcamos uma reunião, em que ela, muito simpática, explicou com mais detalhes as pesquisas em andamento e me mostrou seu laboratório, e duas semanas depois, dei início à pesquisa.


B: Com quais produtos e/ou serviços você trabalhou? Descreva.
Laboratório de Bioprocesso e Biomonitoramento, 2016.
(Foto: Arquivo pessoal)
A: Nos quatro primeiros meses, a pesquisa envolvia o enriquecimento de bactérias anaeróbicas biorremediadoras de importantes contaminantes de atividades mineralógicas. O intuito era selecionar as bactérias capazes de reduzir selenato em selênio elemental, mesmo na presença de nitrato. O nitrato é preferível de redução, já que possui maior potencial redox que o selenato, porém a toxicidade do selenato é muito maior e inclusive controlada por legislação, portanto a pesquisa visava utilizar um meio enriquecido para a seleção de bactérias capazes de reduzir selenato, diminuindo, assim, drasticamente a toxicidade do meio. Além da fermentação de bactérias anaeróbicas, realizei ensaios para determinação de denitrificação ao longo do processo e aprendi as bases para a análise de selênio por espectrometria de massa com plasma acoplado indutivamente (ICP-MS).
Nos quatro últimos meses, trabalhei em um projeto para desenvolver uma metodologia para a contagem, por citometria de fluxo, de microrganismos presentes em sedimentos de um rio que havia sido contaminado por resíduos de mineração, devido a quebra da barragem de contenção há dois anos, mas que ainda gera consequências ecológicas atualmente.


B: Na sua opinião, qual é a importância de um engenheiro biotecnológico nessa área?
A: A biorremediação é uma das vertentes que um engenheiro biotecnológico pode seguir na área ambiental, que é muito importante já que são inúmeros os processos, indústrias e serviços que atualmente causam graves contaminações ambientais, e ainda é vasto e desconhecido os microrganismos que têm potencial para reduzir a toxicidade e até completamente descontaminar solos e água, recuperando ambientes e diminuindo o risco de intoxicação da população.
Nós temos condições de cuidar de todo o processo, desde a seleção (e modificação, ou não) dos microrganismos em escala laboratorial até a aplicação em grande escala, e ainda implementar melhoras para otimizar o processo.

B: Por quanto tempo você realizou seu estágio e como você o avalia?
A: Ao todo foram oito meses. Os quatro primeiros eram obrigatórios pelo Ciência sem Fronteiras, porém minha orientadora me convidou para continuar trabalhando no laboratório até o final do meu intercâmbio, então nos quatro últimos meses, conciliei o estágio com as matérias de engenharia química e biológica, o que era requisitado pelo Ciência sem Fronteiras. Essa experiência foi extremamente positiva, pois trabalhei com algo que sempre tive vontade, ganhei mais experiência com pesquisa, e obtive reconhecimento do meu esforço quando minha orientadora propôs a extensão do meu estágio. Além disso, tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis, inclusive alunos de mestrado e PhD de outros laboratórios, e ampliar minha rede de networking.

B: Você gostaria de fazer mais alguma consideração?
A: Gostaria de recomendar o Canadá como destino para intercâmbio e até mesmo para pós-graduação. O país, de maneira geral, é bem multicultural, e no departamento em que estudei, a maioria dos alunos da pós eram estrangeiros, principalmente da Ásia, o que mostra como as universidades são bem abertas, e assim como a população em geral, não vão se importar com o seu sotaque ou alguma dificuldade que você venha a ter com a língua. Além disso, muitas empresas financiam os laboratórios das universidades, o que pode ser uma porta de entrada para o mundo corporativo.

Responsável pelo Texto:
Andressa Lie Mizobuchi
(Graduando Engenharia Biotecnológica)