Dando continuidade
aos relatos da nossa seção "Vida de Estagiário" (saiba mais),
compartilharemos as experiências profissionais da Andressa Lie Mizobuchi,
aluna do curso de Engenharia Biotecnológica que realizou, no último
ano, estágio na área de biorremediação no laboratório do Canadá.
Blog: Onde você
trabalhou e em que área?
Andressa:
Trabalhei no laboratório de Bioprocesso e
Biomonitoramento do departamento de Engenharia Química e Biológica da University of British
Columbia, em Vancouver, na área de biorremediação, que é a utilização de microrganismos para remoção de
contaminantes tóxicos do solo e da água (no meu caso, água).
B: Como você
conseguiu seu estágio?
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Departamento de Engenharia Química e Biologia da
University of British Columbia. |
A: O estágio era requerido
pelo programa de intercâmbio do Ciência sem Fronteiras no Canadá, e poderia ser
realizado tanto em uma empresa conveniada quanto em um laboratório da própria
universidade, desenvolvendo uma pesquisa sob orientação de um professor. No
início pensei em tentar estágio em uma empresa, pois seria algo novo para mim,
uma vez eu já havia feito iniciação científica por mais de um ano com a
professora Catarina na Unesp, porém, pesquisando os professores do departamento
em que estudava e suas linhas de pesquisa, descobri uma professora, a Susan
Baldwin, que trabalha com biorremediação, que é uma área que eu sempre tive
vontade de explorar. Então mandei um e-mail para ela e marcamos uma reunião, em
que ela, muito simpática, explicou com mais detalhes as pesquisas em andamento
e me mostrou seu laboratório, e duas semanas depois, dei início à pesquisa.
B: Com quais
produtos e/ou serviços você trabalhou? Descreva.
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Laboratório de Bioprocesso e Biomonitoramento, 2016.
(Foto: Arquivo pessoal) |
A: Nos quatro primeiros meses, a
pesquisa envolvia o enriquecimento de bactérias anaeróbicas biorremediadoras de
importantes contaminantes de atividades mineralógicas. O intuito era selecionar
as bactérias capazes de reduzir selenato em selênio elemental, mesmo na
presença de nitrato. O nitrato é preferível de redução, já que possui maior
potencial redox que o selenato, porém a toxicidade do selenato é muito maior e
inclusive controlada por legislação, portanto a pesquisa visava utilizar um
meio enriquecido para a seleção de bactérias capazes de reduzir selenato,
diminuindo, assim, drasticamente a toxicidade do meio. Além da fermentação de
bactérias anaeróbicas, realizei ensaios para determinação de denitrificação ao
longo do processo e aprendi as bases para a análise de selênio por espectrometria
de massa com plasma acoplado indutivamente (ICP-MS).
Nos quatro últimos meses, trabalhei em um projeto para desenvolver uma metodologia
para a contagem, por citometria de fluxo, de microrganismos presentes em
sedimentos de um rio que havia sido contaminado por resíduos de mineração, devido
a quebra da barragem de contenção há dois anos, mas que ainda gera
consequências ecológicas atualmente.
B: Na sua
opinião, qual é a importância de um engenheiro biotecnológico nessa área?
A: A biorremediação é uma
das vertentes que um engenheiro biotecnológico pode seguir na área ambiental,
que é muito importante já que são inúmeros os processos, indústrias e serviços
que atualmente causam graves contaminações ambientais, e ainda é vasto e
desconhecido os microrganismos que têm potencial para reduzir a toxicidade e até
completamente descontaminar solos e água, recuperando ambientes e diminuindo o
risco de intoxicação da população.
Nós temos
condições de cuidar de todo o processo, desde a seleção (e modificação, ou não)
dos microrganismos em escala laboratorial até a aplicação em grande escala, e
ainda implementar melhoras para otimizar o processo.
B: Por quanto
tempo você realizou seu estágio e como você o avalia?
A: Ao todo foram oito meses. Os quatro primeiros eram obrigatórios pelo
Ciência sem Fronteiras, porém minha orientadora me convidou para continuar trabalhando
no laboratório até o final do meu intercâmbio, então nos quatro últimos meses,
conciliei o estágio com as matérias de engenharia química e biológica, o que
era requisitado pelo Ciência sem Fronteiras. Essa experiência foi extremamente
positiva, pois trabalhei com algo que sempre tive vontade, ganhei mais
experiência com pesquisa, e obtive reconhecimento do meu esforço quando minha
orientadora propôs a extensão do meu estágio. Além disso, tive a oportunidade
de conhecer pessoas incríveis, inclusive alunos de mestrado e PhD de outros
laboratórios, e ampliar minha rede de networking.
B: Você
gostaria de fazer mais alguma consideração?
A: Gostaria de recomendar o Canadá como destino para intercâmbio e até mesmo
para pós-graduação. O país, de maneira geral, é bem multicultural, e no
departamento em que estudei, a maioria dos alunos da pós eram estrangeiros,
principalmente da Ásia, o que mostra como as universidades são bem abertas, e
assim como a população em geral, não vão se importar com o seu sotaque ou
alguma dificuldade que você venha a ter com a língua. Além disso, muitas
empresas financiam os laboratórios das universidades, o que pode ser uma porta
de entrada para o mundo corporativo.
Responsável pelo Texto:
Andressa Lie Mizobuchi
(Graduando Engenharia Biotecnológica)