Este
texto é o último de uma série de publicações referentes ao período de
voluntariado da discente do curso de Ciências Biológicas Jaqueline Orlando, no
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, pelo ICMBio - Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade.
Durante
o período de voluntariado, na linha temática Uso Público e em alta temporada,
os voluntários também podem ser solicitados para atender turistas no Centro de
Atendimento ao Turista, na Vila de São Jorge – Alto Paraíso de Goiás, onde fica
a sede do PNCV e na cidade de Cavalcante (GO), que abriga 60% do território do
Parque Nacional.
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Voluntárias ICMBio no Centro de Atendimento ao Turista da Cavalcante/GO |
Cavalcante
possui baixos índices de desenvolvimento social, segundo dados do Censo 2010 do
IBGE, o município conta com uma população de 9.392 habitantes, IDH de 0,584 e
uma densidade demográfica de 1,35 hab./km², considerando-se que quase 50% estão
em área rural. Apesar da carência de infraestrutura, é crescente a procura de
turistas pelos recursos naturais e culturais da cidade.
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Cavalcante/GO |
A
chegada dos Bandeirantes a Cavalcante, em 1736, marcou a história do município que
se tornou referência na produção de ouro no estado durante o Império. Com a
queda do ouro, o município passou a ter a produção agrícola como sua principal
fonte de sustentação econômica, principalmente produção de trigo. A economia do
município atualmente baseia-se na agropecuária, sendo a bovinocultura de corte
a atividade predominante, além da produção agrícola voltada para a
subsistência.
A
Chapada dos Veadeiros faz parte de projetos de desenvolvimento regional voltado
para o turismo, desde a construção de Brasília e criação do Parque Nacional da
Chapada dos Veadeiros. Alto Paraíso se tornou então polo turístico de Goiás, conhecido
nacional e internacionalmente pelas características mística e geográfica
particular do Parque Nacional. Já Cavalcante, apesar de compor a maior parte da
área do parque, pouco se beneficia deste atributo.
Ao
fim do século XVIII, havia mais de nove mil escravos trabalhando nas minas de
Cavalcante, desses, muitos fugiam para os vãos de serras e planaltos,
constituindo os quilombos que hoje fazem parte do Sítio Histórico e Patrimônio
Cultural Kalunga. O território Kalunga abriga as comunidades de remanescentes
de quilombos em uma área de 253.191 hectares, em três municípios goianos:
Teresina, Monte Alegre e Cavalcante.
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Quilombo Kalunga Engenho II (Cavalcante/GO) |
O
povo Kalunga era possuidor de um território com clima, fauna e flora apropriados
e retirava quase tudo que precisavam da natureza. A gestão do território,
considerando o retorno econômico para as comunidades é feita hoje da agricultura e do turismo. A produção
agrícola no território Kalunga é feita numa lógica sustentável de pequena
escala, sem recurso a agrotóxicos ou outros produtos industriais.
O
município de Cavalcante possui mais de 120 cachoeiras catalogadas, belos
mirantes, cavernas e um grande potencial para o turismo de aventura. Os
principais atrativos são a cachoeira Santa Bárbara, Prata e Capivara,
localizadas no Quilombo Engenho II, que possui restaurantes, centro de atendimento
ao turista, loja de produtos locais, hospedagens, e uma equipe de guias e
condutores capacitados.
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Cachoeira Santa Bárbara |
O
aumento no turismo acaba chamando a atenção para a cultura e identidade Kalunga,
daqueles que chegam a Cavalcante, no entanto, é necessário que os habitantes do
quilombo, lutem para que esse crescimento seja uma atividade que promova o
bem-estar, a autogestão e a busca de uma emancipação econômica, laboral e
politica destas comunidades, sem deixar de mencionar a conservação das áreas
naturais, já que é possível perceber que a gestão municipal se preocupa com a
estrutura da cidade para recepcionar turistas, como acessibilidade e
hospedagem, no entanto, não há ações que visem a preservação dos recursos
naturais e desenvolvimento social da população quilombola, cujas tradições e
cultura são as principais motivações dos turistas ao visitar Cavalcante.
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Cachoeira Capivara |
Cavalcante
é uma cidade cheia de belezas e tradição e possui um potencial gigantesco para
o ecoturismo, contudo, cabe uma reflexão a todos os viajantes que buscam contato
com a natureza: Os Kalunga trazem consigo um passado e presente de muitas lutas
por direitos, hoje são vitoriosos por todas as suas conquistas e merecedores de
muito reconhecimento por sua resistência histórico-cultural. Infelizmente, os
guias e condutores locais oriundos da comunidade Kalunga, moradores do Engenho
II, sofrem preconceito racial constantemente por parte dos turistas. Permita
que o mesmo sentimento de pertencimento a Natureza e admiração pelas belezas
naturais que te levam até locais como Cavalcante-GO, seja capaz de fazer com
que você olhe para qualquer pessoa com humildade e empatia. A simples
existência de quedas d’água como a Cachoeira Santa Bárbara e toda a energia de
sua natureza, é também uma lição, nos mostra o quanto somos pequenos e não
temos o direito de diminuir ou rejeitar nenhuma pessoa pela cor da pele ou
classe social.
Responsável pelo texto:
Jaqueline Orlando
Graduanda do curso de Ciências Biológicas - UNESP Assis