Recentemente,
o Laboratório de Sistemática Vegetal, coordenado
pela Dra. Renata Udulutsch, oficializou o registro
internacional de um Herbário com sede na
Faculdade de Ciências e Letras de Assis. A professora Renata nos recebeu para
contar um pouco a respeito desta conquista.
Blog:
Quando o herbário foi
criado?
Renata: Começamos com a
coleção em 2013, a qual foi estruturada no Laboratório de Sistemática Vegetal,
mas quando se começa uma coleção não é possível fazer o registro para que se tenha
o reconhecimento internacional, pois é necessário um número mínimo de
exemplares. Antigamente esse número era 3.000, agora reduziram para 1.500
exemplares. Dessa forma, a partir do momento que atingimos esse número, ou
estamos perto disso, o credenciamento internacional já é permitido. Esse
credenciamento é feito no Index Herbariorum, o qual é administrado pelo Jardim
Botânico de Nova York. Os dados são disponibilizados em um site que contém o registro
de todos os herbários do mundo, o que permite fazer a busca, por exemplo, por endereços,
coleções científicas importantes e quais são os grupos de especialistas que
trabalham nos herbários.
Blog:
Como surgiu a idéia do
herbário?
Renata: Todos os trabalhos
de taxonomia vegetal são baseados em amostras depositadas em coleções científicas.
Todo material coletado em campo deve ser incluído em uma coleção, sendo
considerado o material-testemunho (voucher) da amostra, caso contrário, não há
como publicar os trabalhos, pois muitas revistas têm essa exigência. Isso não
ocorre só para taxonomia, mas para a maioria das áreas que envolvam a coleta de
material biológico. Por exemplo, se você trabalha com fitoquímica é importante
que parte das amostras que foram utilizadas nos experimentos sejam depositadas
em uma coleção científica, a qual passa a abrigar o material-testemunho do seu
trabalho.
A idéia de fazer o Herbário Assisense (HASSI), surgiu
justamente por conta dessa demanda. Para todos os trabalhos que eram desenvolvidos
aqui, precisávamos enviar amostras para uma coleção científica externa. Na
UNESP temos apenas três herbários reconhecidos, em São José do Rio Preto, em
Rio Claro e em Botucatu, e na região oeste do estado de São Paulo só existe o
herbário de Rio Preto, não havendo nenhum outro. Dessa forma, a criação de um
herbário em Assis, além de ampliar a cobertura na região oeste do estado de São
Paulo, será fundamental para o depósito das amostras dos trabalhos
desenvolvidos pelos docentes e alunos da UNESP, especialmente pela equipe do
Laboratório de Sistemática Vegetal, que coleta um volume grande de amostras
todos os meses.
Blog:
Quais são as vantagens de se
ter um herbário?
Renata: O herbário tem
uma série de usos, ele serve para pesquisas básicas, por exemplo, para a identificação
de espécimes (a identificação poderá ser feita através da comparação com as
amostras depositadas no herbário). Outro
uso é para a identificação de períodos de floração e frutificação de uma
planta: supondo que para o seu trabalho você precise coletar as flores de uma
determinada espécie, basta ir ao herbário e consultar quando essa espécie foi
coletada com flores. Um herbário também serve como fonte para uma série de
pesquisas biológicas, como material para análises químicas, localização de
espécies raras, registro de introdução de espécies invasoras, além de manter os
vouchers de diversos estudos. Existe uma série de usos, quem tiver interesse
pode consultar o seguinte trabalho "100 uses for anherbarium", de Vicki
Funk (2003).
Com o herbário reconhecido, podemos pedir na
forma de empréstimo amostras a outros herbários. Os herbários mandam os
materiais para nós, analisamos e depois devolvemos. O fato de termos um
herbário cadastrado, permite também a troca (permuta) de amostras, conseguimos
doar amostras e receber doações de outros herbários, o que faz com que nossa
coleção cresça cada vez mais.
Blog:
Existe alguma meta para o
herbário?
Renata: Estamos sempre
visando o crescimento do herbário. Nossa meta é ter uma coleção representativa
da diversidade regional, incluindo as áreas de cerrado e floresta estacional de
Assis e região, e expandir isso para um nível estadual e, futuramente,
nacional. Existem herbários locais, regionais, nacionais e internacionais,
dependendo do número de amostras e das regiões que elas representam. Sendo
assim, o nosso herbário é considerado local, pois possui a maioria das amostras
dos arredores de Assis. Já um herbário de nível nacional, por exemplo, tem
exemplares de vários locais do país.
Por enquanto nosso herbário é bem pequeno, está
com cerca de 1.500 exemplares. Nossa meta é dobrar esse número até meados do
próximo ano.
Blog:
Qual a importância do
herbário ser reconhecido?
Renata: Existem várias
leis relacionadas ao transporte de material biológico e, no caso de amostras de
plantas herborizadas (secas), só é possível fazer isso entre instituições
científicas que possuem coleções científicas reconhecidas. Quando o herbário
não é reconhecido, não consigo fazer a troca de material com outros herbários e
não consigo pedir material emprestado, pois os outros herbários não enviarão
suas coleções.
Informações:
Para
buscar por um herbário.
Para
saber mais sobre o herbário Assisense.
Referência
sobre os usos de um herbário:
Funk, V. 2003. 100
uses for anherbarium (wellatleast 72). ASPT Newsletter 17: 17–19.