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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Uso de anabolizantes e alterações mutagênicas



Eritrócito micronucleado. Foto cedida por: Rodrigo Pinheiro Araldi

A busca pelo estereótipo de beleza leva a um uso abusivo e indiscriminado de esteroides anabólicos androgênicos (EAAs), derivados sintéticos da testosterona e popularmente conhecidos por anabolizantes. Essas substâncias são usadas por pessoas que desejam aumentar sua massa muscular para obter um melhor desempenho nos esportes ou melhorar a aparência física, uma vez que promovem a hipertrofia das fibras musculares, aumentando a síntese proteica intracelular. Outro suplemento frequentemente consumido nas academias é a L-carnitina, empregada para aumentar a produção energética através da oxidação de ácidos graxos com o intuito de elevar o desempenho físico durante o treino. Embora haja trabalhos mostrando as propriedades fisiológicas desses suplementos, pouco se sabe acerca do potencial mutagênico desses compostos. Estudos mutagênicos são fundamentais para garantir o uso seguro de suplementos ou fármacos, uma vez que as mutações representam os primeiros passos para a carcinogênese. O trabalho publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte, liderado pela Dra. Edislane Barreiros de Souza, avaliou pela primeira vez e de forma comparativa, a clastogenicidade e genotoxicidade do decanoato de nandrolona, decanoato de testosterona e da L-carnitina, em diferentes tratamentos, baseados nas dosagens frequentemente consumidas, através do teste do micronúcleo em eritrócitos policromáticos de ratos Wistar. Os animais foram submetidos a diferentes concentrações e associações de EAAs. O controle positivo recebeu ciclofosfamida 50 mg/kg (quimioterápico) através de injeção intraperitoneal e o controle negativo, 1 ml de soro fisiológico por gavagem. As análises estatísticas revelaram que os anabolizantes testados (decanoato de nandrolona e decanoato de testosterona) e a L-carnitina são mutagênicas, de modo que o uso constante e indiscriminado destes compostos, sobretudo em dosagens acima daquelas recomendadas, porém frequentemente usadas por aqueles que fazem uso de tais compostos sem orientação, pode resultar em um acúmulo de mutações genéticas que levam à instabilidade do genoma, podendo levar à carcinogênese. O resultado deste trabalho confirma os dados clínicos, onde se observa uma elevada frequência de câncer hepático em indivíduos que fizeram uso prolongado de anabolizantes.

Veja o trabalho na íntegra aqui.


Responsável pelo texto:


Rodrigo Pinheiro Araldi
Graduado em Ciências Biológicas – UNESP – Assis
Especialista de Oncogênese Viral – Instituto Butantan
Mestrando em Biotecnologia - USP