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Eritrócito micronucleado. Foto cedida por: Rodrigo Pinheiro Araldi |
A busca pelo estereótipo de beleza leva a um uso
abusivo e indiscriminado de esteroides anabólicos androgênicos (EAAs), derivados
sintéticos da testosterona e popularmente conhecidos por anabolizantes. Essas
substâncias são usadas por pessoas que desejam aumentar sua massa muscular para
obter um melhor desempenho nos esportes ou melhorar a aparência física, uma vez
que promovem a hipertrofia das fibras musculares, aumentando a síntese proteica
intracelular. Outro suplemento frequentemente consumido nas academias é a
L-carnitina, empregada para aumentar a produção energética através da oxidação
de ácidos graxos com o intuito de elevar o desempenho físico durante o treino.
Embora haja trabalhos mostrando as propriedades fisiológicas desses suplementos,
pouco se sabe acerca do potencial mutagênico desses compostos. Estudos
mutagênicos são fundamentais para garantir o uso seguro de suplementos ou
fármacos, uma vez que as mutações representam os primeiros passos para a
carcinogênese. O trabalho publicado na Revista Brasileira de Medicina do
Esporte, liderado pela Dra. Edislane Barreiros de Souza, avaliou pela primeira vez e
de forma comparativa, a clastogenicidade e genotoxicidade do decanoato de
nandrolona, decanoato de testosterona e da L-carnitina, em diferentes
tratamentos, baseados nas dosagens frequentemente consumidas, através do teste
do micronúcleo em eritrócitos policromáticos de ratos Wistar. Os animais foram
submetidos a diferentes concentrações e associações de EAAs. O controle
positivo recebeu ciclofosfamida 50 mg/kg (quimioterápico) através de injeção
intraperitoneal e o controle negativo, 1 ml de soro fisiológico por gavagem. As
análises estatísticas revelaram que os anabolizantes testados (decanoato de
nandrolona e decanoato de testosterona) e a L-carnitina são mutagênicas, de
modo que o uso constante e indiscriminado destes compostos, sobretudo em
dosagens acima daquelas recomendadas, porém frequentemente usadas por aqueles
que fazem uso de tais compostos sem orientação, pode resultar em um acúmulo de
mutações genéticas que levam à instabilidade do genoma, podendo levar à
carcinogênese. O resultado deste trabalho confirma os dados clínicos, onde se
observa uma elevada frequência de câncer hepático em indivíduos que fizeram uso
prolongado de anabolizantes.
Veja o trabalho na íntegra aqui.
Responsável pelo texto:
Rodrigo Pinheiro Araldi
Graduado em Ciências Biológicas –
UNESP – Assis
Especialista de Oncogênese Viral –
Instituto Butantan
Mestrando em Biotecnologia - USP